Hoje de manhã enquanto admirava meu corpo no espelho antes de tomar banho tive a clara sensação de que esse é o corpo da minha vida. Fui modelo aos 18 anos, praticante ferrenha de Astanga Yoga nos 20 e tantos, atenta à minha saúde e dotada de um corpo esguio. Já tive barriga durinha, em outras fases nem tanto, já fui seca, magrela. Mas nunca tive um corpo tão lindo como o que tenho agora. Nunca amei tanto meu corpo quanto durante essa gestação. Aos 37 anos de idade presencio uma estrutura sobre a qual respondo tão pouco como sua controladora e sim como aquela que permite e dá condições para que essa exuberância se faça presente. Não há série de abdominais, sequência de ásanas ou controle alimentício tão eficaz quanto escolhas saudáveis constantes que propiciem o bem estar de forma naturalmente suave. Essas constantes escolhas vão dando condições para que a inteligência corporal encontre seu ápice aqui nesse corpo, gerando uma vida a partir de outra.
Sempre recebi elogios pela minha aparência, seja pela natureza dela ou pela forma com que enfeitava meu corpo. Mas nunca recebi tanto amor quanto durante a gravidez. Nunca antes as pessoas me pararam na rua para me abençoar, para desejar algo bom, para compartilhar a magia que é gerar um novo ser. O elogio pode ter várias fontes motivadoras, mas o amor, ele vem de um lugar só.
Nunca fui tão carinhosa comigo mesma. Minhas mãos acariciam essa barriga todo o tempo. Um desejo de abraçar, de fundir, e agradecer à essa presença mutante em mim. Puxei o freio da vida e passei a observar com mais afinco o que faz bem pra mim e pro meu corpo. E a praticar essas descobertas.
Durante esses oito meses minha saúde foi lá pra cima. Minha pele ficou linda, como antes ficava à base de pílulas anticoncepcionais, ácidos, gel, peeling. Ansiedade e preocupação não conseguiram invadir a aura de tranqüilidade que se instaurou no meu corpo. Montei um lar em poucos meses com meu amado que parece estar sendo habitado há tempos. E como num desenho fantasioso, os objetos que estarão povoando a vida da minha filha foram entrando no lugar numa cadência mágica. Um fluxo intermitente.
Compartilho a vaidade que me assola fruto da honra de poder observar o poder transformador da criação, da diversidade imanente da natureza, de tudo que é unknowable, da maravilha que é o corpo humano.