Curiosamente, há um tempo atrás, observando as mulheres na rua, ou depois de ter visto alguma mulher que me impactou, na verdade colecionando as impressões marcantes do cotidiano na cidade, me dei conta de que eram as mulheres negras aquelas que mais me chamavam a atenção. As roupas, as cores, os cabelos, uma feminilidade corajosa e nova está tomando conta de uma cidade de certa maneira pacata nas expressões de um ‘estilo do corpo’ como Belo Horizonte. Mas sim, eram elas e são elas que nesse momento protagonizam uma nova presença valorosa nas ruas, na cultura, no pensamento, nas redes.
Abrindo a mala das fantasias de carnaval encontrei uma peruca ‘black power’ e senti pela primeira vez que aquilo deveria ser deixado de lado. Lembrei com amargor de uma festa à fantasia em que aluguei uma fantasia numa loja, a única que não improvisei na vida, e fui de ‘nega maluca’. E quando hoje, me deparei com textos e análises sobre o uso do turbante lembrei-me da tal fantasia. Que infelicidade me dar conta disso. Fiquei pensando nos personagens que nos fantasiamos no carnaval, o que eles estão a dizer, porque se fantasiar por exemplo, de índio? Que alegoria é essa que criamos uns dos outros?
São nesses lugares mais ingênuos que revelamos o tamanho da ferida aberta. Escolho dar um passo atrás, escutar o que estão tentando me dizer e parar de querer confrontar pelo direito de ter direito e abrir mão de meus direitos, pelo dever de respeitar o que está urgente agora.
Incrível texto da Eliane Brum sobre o tema: http://brasil.elpais.com/brasil/2017/02/20/opinion/1487597060_574691.html